quinta-feira, 3 de junho de 2010

Furia de Titâs


Dentro do velho preceito hollywoodiano de que “nada se cria, nada se perde, tudo se refilma”, o épico/mitológico de 1981 Fúria de Titãs ganha uma nova e reformulada versão. Agora, claro, em 3D. Ou não? Na verdade, não! O que vemos na tela neste novo Fúria de Titãs não merece ser chamado de 3D. No máximo, com muita boa vontade, 2 e ½ D.

Explica-se: quando a febre do verdadeiro 3D (aquele que vemos em Avatar, por exemplo) se instalou na indústria cinematográfica, este Fúria de Titãs já estava sendo produzido. Não dava mais tempo de mudar o sistema. Os produtores resolveram então aplicar o sistema 3D apenas no processo de finalização do filme, a chamada pós-produção, e não durante as filmagens. Ficou horrível. Não apenas os supostos efeitos em terceira dimensão são imperceptíveis, como as lentes escuras dos óculos tiram do espectador a luminosidade necessária para que se aprecie o filme. Numa sessão para imprensa realizada em São Paulo, por exemplo, os resultados foram criticados negativamente pela maioria dos presentes, e as dores de cabeça resultantes de vista forçada não foram poucas.
Ah, claro, com a chancela “3D”, o preço do ingresso será mais caro que o sistema convencional. Um verdadeiro caso de propaganda enganosa que deveria ser investigado por quem de direito (Conar?), já que não se trata do “verdadeiro” 3D.

Vamos então ao filme propriamente dito. A história fala da disputa cruel e mortal entre os deuses mitológicos Zeus (Liam Neeson) e Hades (Ralph Fiennes), que lamentam a maneira pela qual os humanos estão deixando de idolatrá-los. Zeus quer que os humanos o respeitem, enquanto Hades quer que eles o temam. O impasse entre estes dois Titãs terá de ser resolvido pelo semideus Perseu (Sam Worthington, de Avatar), filho de Zeus com uma mortal, que terá diante de si uma jornada - com o perdão do trocadilho - hercúlea recheada de perigos, monstros e seres mitológicos a serem derrotados.

É sobre esta dicotomia entre o mundo dos deuses e o mundo dos homens que o diretor francês Louis Leterrier (que já havia feito um trabalho discutível em O Incrível Hulk) desenvolve o filme. Mas o principal problema de Fúria de Titãs não está exatamente na direção fraca, mas sim na primariedade do roteiro: linear e sem nuances, ele conduz a saga de Perseu como se fosse um videogame, onde o herói passa pelas fases propostas até o game over.

Como geralmente acontece nos blockbusters, há uma preocupação muito grande em que o público, entre uma pipoca e outra, entenda perfeitamente tudo o que está sendo mostrado, sem que para isso seja necessário algum tipo de esforço ou percepção mais apurada. Repare como, de dez e dez minutos, algum personagem faz uma pergunta, que será prontamente respondida por outro personagem, como que “auxiliando” o espectador de forma primária, verbal e nada cinematográfica.

Ou, em outras palavras, Fúria de Titãs tem um roteiro que subestima a percepção do público, ao mesmo tempo em que não confia em sua própria capacidade de contar a história com imagens.

O filme não conseguiu se pagar nas bilheterias norte-americanas, mas tem bom potencial de ganhos em DVDs, games e licenciamentos de produtos, motivo pelo qual os produtores já prometem uma continuação para 2012.

Pelo menos este deve ser em 3D verdadeiro.

Fúria de Titãs de 1981 tinha gênio dos efeitos especiais de Hollywood.