domingo, 27 de junho de 2010

Existe filho favorito?


Existe filho favorito?
Existe. Mas os pais não precisam sentir culpa por causa disso.
Não tem problema ter um filho favorito, desde que ele não seja sempre o mesmo
A maioria das mães que tem vários filhos já ouviu a perguntinha: “qual é o seu filho favorito?” Algumas desconversam, outras respondem escandalizadas que “não têm um filho favorito, que amam todos do mesmo jeito”. Segundo a psicóloga norte-americana Ellen Libby, que recentemente lançou o livro “The Favorite Child” (A Criança Favorita), e fez diversas pesquisas sobre o assunto, é exatamente esse tipo de reação que dificulta e confunde a compreensão do tema. “Ter um filho favorito não é uma violação de um código moral. Um pai não é igual a uma mãe, assim um filho não é igual ao outro”, disse Libby em entrevista ao Delas.
A especialista explica que muitos pais têm medo de admitir a preferência por um dos filhos, que pode surgir por afinidade, semelhança com algum parente querido ou até ordem de nascimento, pois confundem favoritismo com amor. De acordo com a psicóloga, as pessoas têm receio de conhecer seus próprios gostos. “Elas preferem acreditar que há uma objetividade nos sentimentos, o que não é verdade”.
Sílvia Miani, de 39 anos, mãe de três filhos, consegue perceber bem a diferença entre amor e preferência. “A afinidade com cada um muda bastante, depende do momento. Em algumas épocas, prefiro estar mais com um, em outras, com o outro. Ainda assim, não amo menos, amo diferente”, afirma. Ellen Libby explica que essa é a chave: quando a preferência é rotativa, como no caso de Sílvia, o favoritismo faz bem para os filhos porque preserva a identidade de cada um – e todos, de alguma forma, terão certeza do amor dos pais.
Libby diz que o grande silêncio que costuma ocorrer em torno do assunto tem a ver com culpa que os pais sentem em preferir este ou aquele filho. Segundo a psicóloga, a primeira coisa que se deve fazer é admitir que existe filho favorito. “Todo mundo tem preferências, e a maioria delas são curtas e temporárias, você pode preferir um filho por um dia, uma semana ou até por meses”, explica a psicóloga. Isso não significa que não ama os demais. A segunda coisa, e mais importante, é existir uma conversa franca entre os pais. “Quando são menos defensivos, eles conseguem conhecer quais são seus próprios comportamentos e gostos e, consequentemente, lidar melhor com eles”, completa.
O outro lado da moeda
Apesar de apontar muitas vantagens que filhos favoritos tendem a desenvolver, como otimismo e sociabilidade, Ellen Libby bate na tecla dos impactos negativos que a preferência pode criar quando é direcionada a apenas uma criança por tempo indeterminado. “Filhos que são eternos favoritos tendem a ser mais facilmente manipulados, têm mais dificuldade em criar uma identidade e podem achar que estão acima de qualquer lei”, diz Libby.
Além disso, há impactos para o resto da família. A psicóloga Ida Bechelli, que é do Setor de Saúde Mental do Departamento de Pediatria da Unifesp, explica sobre o que pode acontecer com os outros filhos ao perceberem que nunca são os favoritos. “Ou a criança se intimida ou passa a tentar imitar o outro, ou seja, ela acaba deixando de ser ela mesma”.