domingo, 14 de março de 2010

Matrix


Matrix é um filme de ficção científica que tem como uma de suas características principais uma infindável seqüência de citações a outras obras. Referências literárias, cinematográficas ou religiosas aparecem em quase todos os momentos da fita, tanto no seu roteiro como na direção e fotografia. Em alguns momentos, elas são bastante explícitas, enquanto em outros são quase imperceptíveis.
A trama do filme é muitas vezes confusa e carregada de inverossimilhança, como são também todos os grandes filmes de ficção científica. O clima é de modernidade, expressa pela onipresença da tecnologia e informática na história.
No começo, acompanhamos Neo, durante o dia um funcionário de uma empresa de programas para computador e à noite um hacker, aqueles que adoram fuçar, invadir e sabotar os sistemas alheios. Em determinado momento, ele é abordado por Trinity, uma estranha que o leva ao encontro um homem misterioso, Morpheus, que o procurava há algum tempo. Até esse momento só aumentou ainda mais a dúvida que é explorada pela campanha publicitária do filme: afinal de contas, o que é Matrix? Morpheus então dá a Neo (e a nós) as explicações. É revelado que não se está no fim do século XX, e sim duzentos anos à frente. Como?
Entre 1999 e o começo do século seguinte, a humanidade conseguiu finalmente criar máquinas dotadas de inteligência artificial. Inicialmente elas foram usadas para nos auxiliar em atividades perigosas ou desagradáveis. As chamadas AIs, (Inteligências Artificiais), foram então se aperfeiçoando e ficando cada vez mais parecidas com os seres humanos. Em algum momento do século XXI elas tornaram-se mais poderosas do que os homens e não aceitavam mais serem submissas.
Uma guerra entre máquinas e humanos foi deflagrada. O único ponto fraco do inimigo é que, da mesma maneira que as máquinas atuais, as AIs também precisavam de energia. No caso, solar. Em uma tentativa desesperada, a humanidade detonou seu arsenal de bombas atômicas para que o Sol fosse encoberto. Infelizmente, as máquinas descobriram que o corpo humano também pode ser usado como fonte de energia. Os seres humanos foram aprisionados em casulos onde sua energia é retirada por meio de tubos ligados aos corpos. Eles ficam adormecidos do nascimento até à morte. Sempre que é preciso, novos homens são gerados artificialmente. Quando morrem, seus corpos são reprocessados para se tornarem como alimento intravenal dos ainda vivos.
Matrix é o nome do gigantesco programa de computador que nos manteria adormecidos. Como a mente humana precisa ser mantida funcionando, ele transmite diretamente aos cérebros uma espécie de mundo virtual, inexistente, ambientado no ano de 1999. Esse mundo é justamente onde Neo e todo o resto da humanidade pensam que vivem. Ou seja: viveríamos todos em um sonho, em uma realidade virtual gerada por computadores.
Morpheus é o líder dos humanos que, aproveitando-se de erros do Matrix, conseguiram salvar-se. Afinal, como todo programa de computador que se preze, Matrix também tem falhas. Os sobreviventes vivem próximos do centro da Terra agora escura, o único lugar do planeta com calor suficiente para abrigar vida. A única saída para a humanidade, segundo a resistência, é a chegada de um Predestinado (The One) que poderia invadir as AIs para destruí-las. De acordo com Morpheus, essa pessoa é Neo (Neo é um acrônimo para One). Daí em diante, o filme mostra o protagonista liderando os rebeldes na luta contra as máquinas.
Qualquer semelhança com a figura do Messias da religião católica não é mera coincidência. É mais uma das citações que pontuam o filme. Interessante perceber que a personalidade de Morpheus e o treinamento que ele ministra a Neo para que este possa salvar o mundo têm muito a ver com a religião budista. A salada de referências e as confusões da trama acabam por envolver ainda mais o espectador, que já está suficientemente afundado na cadeira por conta das seqüências de cortes rápidos que aproximam o filme de um videoclipe. A trilha sonoratambém colabora para isso: foram escolhidas músicas contemporâneas, bastante agitadas e com muitos elementos eletrônicos. É reforçada assim a ambientação futurista e tecnológica.
Muitas vezes, no entanto, Matrix parece mesmo um videogame, especialmente nas cenas de perseguições e tiroteios. Estes são mostrados em câmera lenta, com a ajuda de um impressionante efeito especial. Também são muitos os efeitos nas cenas do treinamento de Neo. Esse treinamento é baseado no seguinte princípio: como a realidade do Matrix é irreal, pode-se viver nela como se estivesse jogando um videogame de realidade virtual. Assim, com a ajuda de programas de computador específicos conectados ao seu cérebro, Neo aprende em poucos minutos a lutar kung fu, pilotar aviões ou mesmo a pular edifícios. Nada de mais, já que é como se ele estivesse jogando um videogame.
Apesar de algumas referências mais sofisticadas, a maior parte das citações de Matrix vem da cultura pop. Esse aspecto, aliado a uma direção segura e inteligente que tem como pretensão única entreter o público só poderia resultar no sucesso deste filme. E a reunião incomum de tantos elementos diferentes (ficção científica, referências literárias, religião, filmes western, de kung fu, de humor...) faz com que este seja um filme marcante, difícil de esquecer. Gostando dele ou não!