quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Felicidade para alguns Filósofos


Para Sócrates o "conhece-te a ti mesmo" é a chave para a conquista da felicidade. Para Platão a noção de felicidade é relativa à situação do homem no mundo, e aos deveres que aqui lhe cabem. Para Aristóteles a felicidade é mais acessível ao sábio que mais facilmente basta a si mesmo, mas é aquilo que, na realidade, devem tender todos os homens da cidade.
No âmbito do Velho Testamento, a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como comer, beber e viver em família e no temor a Iahweh, que eqüivale à atitude religiosa do homem. Na dimensão do Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças prometidas por Jesus.
Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas". (Abbagnano, 1970)
Este escorço histórico culmina com a nossa época atual em que os valores legítimos da verdadeira felicidade estão ameaçados pelo consumismo e globalização do mundo econômico. A globalização traz a padronização em termos mundiais, nem sempre factível com os hábitos culturais de determinados países. O consumismo faz com que o homem tenha necessidades imaginárias que mais atrapalham do que o auxiliam a realizar-se plenamente.
4. PROBLEMA DA FELICIDADE
4.1. BEM PROCURADO POR TODOS OS VIVENTES
A ausência de todo o mal e fruição de todo o bem é a aspiração que todo ser humano procura através de seus esforços e trabalhos. Ela é o pólo oculto que magnetiza o dinamismo humano. Toda ação humana, mesmo os gestos mais simples, são atravessados por esse magnetismo. Se este cessasse, o homem perderia o sentido de viver e seria prostrado pelo tédio. Assim, todo o homem tem na vida momentos de felicidade e gostaria que esses momentos nunca mais acabassem.
4.2. OS CAMINHOS PROCURADOS
Todos buscam a felicidade, porém por caminhos diferentes. Uns imaginam encontrá-la na posse das riquezas, porque supõem que com o dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como tantas outras. Outros procuram encontrá-la nos prazeres sexuais, nas diversões, nos passeios. Outros ainda na glutonaria. Há também os que anseiam pelo prestígio, enovelando-se nas lutas pelo poder. Observe que os Estatolatras (comunistas, socialistas, fascistas), colocam a felicidade na classe ou no Estado, ou na prosperidade econômica. Karl Marx, filósofo materialista, afirma que a felicidade do ser humano está presa aos proventos materiais advindos do trabalho. Confunde o termo felicidade com o bem-estar. O bem-estar é a posse de bens materiais, que dão mais conforto; a felicidade é mais ampla, porque envolve a realização do ser espiritual.
4.3. PARADOXO DA FELICIDADE
O fato mais confirmado pela experiência e pela sabedoria humana é este: a felicidade, no seu sentido pleno, é inatingível na Terra. O corriqueiro é que o ser humano, depois de muito lutar para conseguir um bem que almejava, já não está tão vigoroso para desfrutá-lo. Além disso, há que se considerar a decorrência do tempo na modificação de nossos ideais. Aí está o paradoxo: ela é sempre desejada e nunca realizável. No âmago deste paradoxo há algo positivo, ou seja, o começo de uma reflexão sobre o destino transcendental , meta-histórico do homem. É a partir daí que o homem começa a pensar numa vida futura, num mundo cheio de bem-aventuranças, de beatitudes. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)
5. SITUAÇÃO DO PLANETA TERRA
5.1. MUNDO DE PROVAS E EXPIAÇÕES
Os amigos espirituais informam-nos de que o nosso planeta não é um dos orbes mais evoluídos do Universo. Ele já esteve mais atrasado, pois já ultrapassou o estado primitivo. Na atualidade, estamos vivendo num mundo de provas e expiações em que o mal ainda predomina sobre o bem. Nesse sentido, por mais que busquemos a felicidade, nunca a encontraremos, pois ela não é deste mundo. Ela pertence a um mundo mais evoluído em que as ações voltadas para a fraternidade universal são a regra. De qualquer forma, devemos fazer esforços para evoluir, a fim de atingir a condição de habitar mundos melhores. Por enquanto, somos obrigados a conviver com toda a sorte de dificuldades.
5.2. O NECESSÁRIO E O SUPÉRFLUO
Como distinguir entre o necessário e o supérfluo? Não é tarefa fácil. Imagine alguém que tenha vivido, por longos anos, com uma renda monetária alta. Nessa condição, ele aprendeu a conviver com uma série de hábitos de consumo, que para ele se tornou imprescindível. Suponhamos agora que, por obra do destino, os ganhos desse indivíduo tenham diminuído drasticamente: ele se sentirá o mais desgraçado dos mortais, embora tenha o necessário para viver. Quer dizer, acabamos confundindo o necessário, aquilo que dá sustentação à nossa vida, com os aspectos psicológicos de nossa existência. Nesse mister, os grandes mestres da humanidade ensinam-nos que o homem cósmico terá sempre o que necessita, mas nem sempre o que deseja. Faltando-nos o supérfluo, lembremo-nos da frase consoladora do evangelho: "Tendo sustento e com o que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes".
5.3. TANTO O RICO QUANTO O POBRE SOFREM
Como vimos anteriormente, o nosso planeta identifica-se com a categoria de mundo de provas e expiações. Assim, não há criatura na Terra que não tenha o seu quinhão de sofrimento. Deduz-se daí que tanto o rico como os pobres sofrem. Mas, o Espiritismo, doutrina que esclarece sobre a reencarnação e a pluralidade das existências, pode oferecer-nos valiosos subsídios para a compreensão da vida e dos seus diversos relacionamentos. Por que o pobre inveja o rico? Sabe ele que a prova da riqueza é mais difícil, para o Espírito, do que prova da pobreza? Se tivesse consciência dessa verdade, com certeza seria mais resignado.
6. DESPOJAR-SE DO HOMEM VELHO
6.1. SOFREREMOS PERSEGUIÇÕES E SARCASMOS
Quando o aprendiz do evangelho realmente persevera na sua trajetória rumo à verticalidade superior, começa a observar uma série de problemas que antes não vislumbrava: a solidão dentro e fora de si, o desprezo dos entes queridos e a incompreensão alheia. Para abrandar este estado de espírito, convém nos lembrarmos dos sofrimentos de Paulo, principalmente depois de ter aderido, no caminho de Damasco, ao chamamento de Cristo. De perseguidor passa a ser perseguido. Os seus familiares e amigos voltam-lhe as costas dizendo que ficara louco. É obrigado a se ausentar, recolhendo-se ao tear por 3 anos. Posteriormente, para tornar público o ensinamento do Evangelho, viu-se cercado por uma série de contratempos, que não havia previsto. Mesmo assim continuou na sua tarefa redentora. Baseado nesse exemplo, devemos ter coragem de expressar nossa fé, porque retroceder no meio do caminho é perder todas as vantagens já conquistadas. Jesus disse: "Todo aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu o reconhecerei e confessarei também, eu mesmo, diante de meu Pai que está nos céus; e todo aquele que me renegar diante dos homens, eu o renegarei também, eu mesmo, diante do meu Pai que está nos céus". (Mateus, X, 32 e 33). Quer dizer, há sempre fraqueza em recuar diante das conseqüências da opinião e em renegá-la, mas há casos de uma covardia tão grande quanto a de fugir no momento do combate.
6.2. FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS
Na condição de Espírito encarnado, deveríamos nos considerar como um usufrutuário de todos os bens dispostos por Deus, inclusive o nosso próprio corpo, pois, embora seja fruto da união do nosso pai e da nossa mãe terrestre, a essência que nele habita pertence ao Criador do Universo. Raciocinando dessa forma, o egoísmo deveria ser banido do nosso planeta, a fim de ceder o seu espaço à fraternidade.
Pergunta-se: será que podemos ser felizes ao lado de irmãos que não têm o necessário para o sustento físico? E por que esses são a maioria? É justamente devido à condição de nosso Planeta. Nesse sentido, nunca poderemos ter uma felicidade plena, a menos que não importemos com o nosso irmão menos aquinhoado. Quem pensa no irmão em dificuldade, dificilmente sentir-se-á feliz. É por isso que o justo é infeliz, pois lutando por uma distribuição mais justa tanto das riquezas materiais como espirituais, será sempre mal compreendido, além de ser desprezado, como o próprio Jesus e outros tantos missionários o foram.
Quais seriam, entretanto, as fontes de infelicidade? Perda de entes queridos, mortes prematuras, antipatias, ingratidão e doenças várias. Dentre elas, a ingratidão assume papel significante. Como, porém, enfrentar essa situação? Lembrando-nos de que a ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta encontrará mais tarde corações insensíveis como ele próprio o foi. Além do mais, a ingratidão é uma prova para persistência na prática do bem. Convém ter para com eles muita tolerância e paciência, assim como o Pai Celestial teve e está tendo para conosco.
6.3. A BOA CONSCIÊNCIA PREPARA UMA VIDA FUTURA FELIZ
"O que dá mais valor ao homem é um juízo sereno e uma firme capacidade de trabalho". Juízo sereno é sinônimo de pureza de consciência. Tendo esta em plenitude, não importa onde estivermos, estaremos sempre usufruindo a felicidade relativa de que somos merecedores. Os amigos espirituais não nos cansam de ensinar que a nossa felicidade será do tamanho da felicidade que proporcionarmos ao nosso próximo. Esforcemo-nos, então, para distribuir bom ânimo aos nossos companheiros de jornada. Esta é uma boa fórmula para prepararmos um desencarne tranqüilo e, conseqüentemente, uma vida futura feliz.
7. CONCLUSÃO
A máxima do Eclesiastes, "A felicidade não é deste mundo", pode ser entendida de duas maneiras: 1) que há outros mundos mais evoluídos do que o Planeta Terra, onde a felicidade é mais plena; 2) que a felicidade não estando no mundo material, pode ser encontrada no mundo interior, como conseqüência do dever retamente cumprido.
A FELICIDADE EM ARISTÓTELES
A felicidade, em Aristóteles, não se esgota no prazer, ou seja, na palavra grega eudaimonia. A felicidade é entendida como o maior bem do homem e identifica-se com o viver bem e o fazer o bem. As virtudes são necessárias, mas não suficientes, para a vida feliz. A felicidade é o fim completo da vida humana, o único fim que não visa promover um outro fim. Aristóteles considera, também, que a pessoa feliz é auto-suficiente, na medida em que a sua felicidade depende dela própria e não de condições exteriores. Uma vez que a felicidade é uma actividade completa, ela inclui todos os tipos de bens, e alguns bens, como é o caso da saúde, dependem da sorte e, por isso, a sorte tem alguma influência na felicidade. Contudo, as maiores componentes da felicidade, as virtudes do pensamento e as virtudes do carácter, não dependem da sorte.
A felicidade é um fim em si mesmo que consiste numa acção virtuosa. Não é um estado, mas sim uma actividade, a mais auto-suficiente de todas.
Aristóteles considera a existência de dois tipos de actividades: as actividades valiosas em si mesmas e as actividades valiosas para outros fins. A felicidade está entre as primeiras. À felicidade não lhe falta nada. Mas será a felicidade o mesmo que a diversão? A resposta é claramente negativa. A felicidade é acção virtuosa, não é divertimento. Embora os divertimentos pareçam ser um fim em si mesmos, eles podem causar mais danos do que benefícios. Por exemplo, uma vida habituada aos divertimentos pode causar sérios danos corporais e na propriedade da pessoa. Em última instância, acaba por arruinar o maior bem da pessoa: a saúde. Então, por que é que a sabedoria popular coloca os divertimentos em tão grande conta, levando muitos a confundi-los, erradamente, com a felicidade? É que as mesmas coisas parecem honoráveis e agradáveis para pessoas vis e desagradáveis e vis para pessoas decentes. Contudo, apenas o que é honorável e agradável para a pessoa virtuosa é que é digno de honorabilidade. Decorre daqui, que a felicidade não pode ser encontrada na diversão, embora os divertimentos, sem excesso e na medida certa, possam ajudar ao relaxamento, preparando, assim, a pessoa para as coisas sérias.
Para se entender melhor o que é a felicidade, importa saber o que é a vida feliz. Para Aristóteles (1), "a vida feliz parece ser uma vida que exprime a virtude, a qual é uma vida que envolve acções sérias e não consiste na diversão. Para além disso, dizemos que as coisas sérias são melhores do que as que proporcionam divertimento, e que, em qualquer caso, a actividade da melhor parte e da melhor pessoa é mais séria e excelente; e a actividade que é melhor é superior, e por isso tem mais o carácter de felicidade".
E qual é a actividade que pode proporcionar mais felicidade? Se a felicidade é a actividade mais auto-suficiente, então a actividade que pode proporcionar mais felicidade deverá ser a segunda actividade mais auto-suficiente. Essa actividade é o estudo teórico. A actividade a que o estagirita chama o estudo teórico é não só a mais agradável de todas como a mais auto-suficiente e caracteriza-se pela continuidade e por ser o supremo objecto do conhecimento.
Quais são as características do estudo que o tornam a actividades mais propícia à felicidade? Em primeiro lugar, envolve o tempo livre. Ninguém pode estudar sem momentos de ócio. Quem dedica todo o seu tempo à conquista da sua sobrevivência ou à procura gananciosa de mais riqueza não pode dispor de tempo livre. Na verdade, a pessoa virtuosa dedica-se, por exemplo, à actividade económica, à política ou à guerra, não com o objectivo de fazer riqueza, fazer política ou fazer a guerra, mas com o objectivo de alcançar outros fins mais estimáveis, agradáveis e honoráveis, como por exemplo, fazer amigos, obter a honra e a estima dos seus vizinhos ou ganhar a glória. Com o estudo, não se passa isso. Quem se dedica ao estudo teórico, fá-lo pelo prazer que essa actividade lhe dá, sem procurar outro fim que não seja o de continuar a estudar. De certa forma, a vida dedicada ao estudo teórico é a que mais se assemelha à vida de um deus, estando mesmo acima do nível humano comum, porque o sábio possui nele um certo elemento divino, e a actividade deste elemento divino é muito superior à actividade expressa nas restantes virtudes. Por isso, "se a compreensão é qualquer coisa de divino, em comparação com um ser humano, assim também será a vida que expressa compreensão, em comparação com a vida humana" (2).
Embora o estudo possa ser considerado a suprema actividade, é possível e necessário o estabelecimento de relações entre o estudo e as outras virtudes que fazem a felicidade. Em primeiro lugar, convém notar que, enquanto o estudo é uma actividade meio humana e meio divina, todas as outras actividades são humanas. O estudioso é feliz por estudar, mas aquele que é corajoso faz acções corajosas porque essas acções são necessárias para outros fins e para outras pessoas. O mesmo poderemos dizer de qualquer outra virtude, com excepção da virtude da compreensão, a qual é a única que tem existência por si mesma, isto é, não precisa do conjunto para existir.
Existe, ainda, uma outra diferença de fundo entre a virtude da compreensão e as restantes virtudes. A pessoa que se dedica ao estudo teórico, e à compreensão portanto, é a que menos necessidade tem de bens exteriores. A pessoa generosa só o pode ser, se tiver dinheiro suficiente para dar. A pessoa corajosa precisa de ter suficiente poder para praticar actos de coragem. A pessoa temperada necessita de liberdade para praticar acções intemperadas, pois a temperança só se justifica se a pessoa for livre para praticar acções insensatas, embora delibere e decida não o fazer. A pessoa
magnificente precisa de possuir riqueza em larga escala para poder ser generosa em larga escala. E por aí adiante. Ao contrário, a pessoa que estuda não necessita de nenhum desses bens exteriores e podemos até dizer que o excesso desses bens é incompatível ou, pelo menos, prejudicial à vida de estudo.
Embora o estudo teórico seja a actividade mais auto-suficiente e contínua de todas e a que necessita de menos bens exteriores para se afirmar, também é verdade que qualquer ser humano precisa de alguns bens exteriores para ser feliz. Sendo a pessoa feliz um ser humano, "ela necessita, também de alguma prosperidade externa; pois a sua natureza não se auto-satisfaz com o estudo, uma vez que necessita de um corpo saudável e precisa de comida e de outros serviços" (3).
Aristóteles (4) recusa a ideia da relação entre a felicidade e muitos bens exteriores, afirmando: "embora ninguém possa ser abençoadamente feliz sem bens exteriores, não devemos pensar que para se ser feliz é preciso muitos grandes bens. Pois, a auto-suficiência e a acção não dependem do excesso, e nós podemos fazer acções valiosas mesmo sem dominarmos a terra e o mar; pois até com poucos recursos, nós podemos fazer acções virtuosas. Isto vê-se com clareza, uma vez que há muitos cidadãos que fazem acções tão decentes como as pessoa com poder e até fazem mais, de facto. Basta que lhes sejam proporcionados recursos moderados". Para além desta argumentação, Aristóteles exemplifica com as palavras e as acções dos grandes sábios da Grécia Antiga e Clássica. Solon foi um desses grandes homens que soube descrever bem a pessoa feliz ao afirmar que as pessoas felizes são as que possuem bens exteriores com moderação, são capazes das melhores acções e vivem a sua vida com temperança.
Como é que a felicidade é adquirida? Será adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou depende da sorte?
Aristóteles dedica parte do livro II da Ética a Nicómaco a discutir estas questões. Começa por discordar que a felicidade seja uma benção dos deuses, optando por considerar que a aprendizagem pode ajudar a encontrar a felicidade. Contudo, tendo em conta que a felicidade exige uma vida completa, a pessoa pode ser impedida de a alcançar por motivo do azar. Tal é o caso, quando se sofre um desastre terrível, como a perda de um ente querido.
A obra A Magna Moralia dedica o capítulo IV do livro I à análise da felicidade, não se notando grandes diferenças entre o que aí afirma e o que escreveu nas outras éticas. Começa logo por afirmar que " nós não vivemos para mais nada senão para a alma; ora, existe uma virtude da alma; e, com certeza, o que produz a alma e o que produz a virtude da alma são, afirmamo-lo, uma e a mesma coisa. É, por isso, por meio da virtude da alma que nós viveremos uma vida feliz. Ora, ao falarmos de vida feliz e de acção conseguida, nós queremos dizer, nem mais nem menos, ser feliz. Então, ser feliz, quer dizer a felicidade, reside no facto de viver uma vida feliz e o
facto de viver uma vida feliz reside no facto de viver de acordo com as virtudes. O fim é, então, tanto a felicidade como o supremo bem"

A fórmula da felicidade segundo Epicuro

Epicuro, grande nome da filosofia antiga, foi um grande estudioso do comportamento humano, principalmente no que se refere ao ramo da felicidade. Querendo saber por que alguns poucos são felizes e outros tantos não, o filósofo reuniu questionamentos que até hoje são de grande valia para nos direcionar rumo a tão almejada felicidade.

Segundo Epicuro, o ser humano só será feliz se conseguir desenvolver três importantes elementos: amigos, liberdade e uma vida analisada. Quem souber valorizar cada um destes aspectos encontrará a verdadeira felicidade.

Epicuro valorizou – e muito – a importância da amizade. Construiu uma grande casa e lá convidou seus melhores amigos para viverem ao seu lado. Dizia que não há amizade na distância. O homem só é amigo de verdade quando vive ao lado das pessoas que gosta. Considerava a hora da refeição um bom momento para viver a amizade. Para ele, não faz sentido sentar-se à mesa sozinho, pois, quem come na solidão é o urso ou o leão.

Entender o sentido da liberdade em Epicuro exige compreender a ânsia do consumismo reinante em nossa sociedade. Envolto numa atmosfera do “ter para ser” o homem gasta sem necessidade e compra coisas que nunca irá utilizar. E é justamente este excesso que rouba de nós o direito de ser feliz. Para Epicuro, encontrar a felicidade é também ser livre para decidir. A liberdade de dizer não aos padrões impostos pela massa e viver uma vida equilibrada.

Equilíbrio. Outro grande desafio para os que buscam a felicidade. Não é possível falar em bem-estar sem valorizar os momentos de introspecção, onde o homem se permite analisar sua história de vida e mudar quando a situação o permitir. Epicuro sabia que ninguém consegue ser feliz se não tiver a capacidade e a coragem de analisar os rumos da sua trajetória para encontrar o equilíbrio tão necessário num mundo onde as pessoas olham mais para as outras e se esquecem de si.

Entende-se que a felicidade é tão necessária quanto o ar que respiramos. Procurá-la longe de nós é o principal obstáculo a nos impedir de encontrá-la. Por isso, os discípulos de Epicuro construíram uma grande muralha na entrada da cidade onde residiam e lá escreveram coisas a cerca da felicidade. Queriam que cada um que por lá passasse tomasse consciência da importância de ser feliz. Pena que, assim como hoje, muitos estavam preocupados mesmo era com as contas a pagar.