quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Vocabulário Filósofico

Vocabulário Filosófico

Razão: capacidade intelectual ou mental do homem.

Pressuposição: uma suposição elementar, comprometimento básico ou perspectiva fundacional.

Cosmovisão: uma rede de pressuposições que não é verificada pelos procedimentos da ciência natural, mas em termos das quais cada aspecto do conhecimento e experiência do homem é interpretado e inter-relacionado.

Dualismo: a perspectiva geral de que a realidade ou experiência do homem é apropriadamente interpretada por dois tipos diferentes de explicação, um religioso e outro não-religioso; dessa forma, há o endosso de uma distinção sagrado/secular. [Isso deve ser distinguido da doutrina metafísica específica que possui o mesmo nome

A PRIORI / A POSTERIORI

Segundo Kant, são a priori os elementos do conhecimento (intuições, conceitos, juízos) independentes da experiência. Assim, por exemplo, a proposição "todos os corpos são extensos" é uma afirmação necessária e universalmente verdadeira (os juízos a priori são universais e necessários), existam corpos ou não; é uma verdade que não depende da experiência. O conhecimento é a posteriori quando só é possível através da experiência.

ABSTRACTO

Por oposição ao concreto, o abstracto situa-se no domínio do pensamento e não da existência material.

APORIA
Reconhecimento por parte de todos os interlocutores da impossibilidade de definir a noção em debate.
"Impasse do pensamento. O raciocínio aí conduz quando nenhuma solução é possível. Sócrates conduz muitas vezes os seus interlocutores a aporias para os fazer mudar de problemática. Em Platão, um diálogo aporético é aquele que leva a uma impossibilidade de conclusão acerca do problema colocado.

Raciocínio mais ou menos desenvolvido cujo objectivo é provar ou refutar uma proposição ou uma tese.

||| "Algumas pessoas pensam que argumentar é apenas expor os seus preconceitos de uma forma nova. É por isso que muita gente considera que argumentar é desagradável e inútil, confundindo argumentar com discutir. Dizemos por vezes que discutir é uma espécie de luta verbal. Contudo, argumentar não é nada disso.
Neste Iivro "argumentar" quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis a uma conclusão. Neste livro argumentar não é apenas a afirrnação de determinado ponto de vista nem uma discussão. Os argumentos são tentativas de sustentar certos pontos de vista com razões. Neste sentido, os argumentos não são inúteis; na verdade, são essenciais."

ATEISMO
Doutrina que nega a existência de Deus.

COMPREENSÃO
A compreensão (ou intensão) de um conceito é o conjunto das propriedades que são comuns a todos os sujeitos ou objectos (que formam a sua extensão). Por ex., a compreensão do conceito Homem: o conjunto das qualidades que fazem de um ser vivo um homem (a animalidade e a racionalidade), que são comuns a todos os homens.
A compreensão e a extensão variam na razão inversa uma da outra: quanto maior é o número de seres a que o conceito se aplica (extensão), menor é a quantidade de características que possuem em comum (compreensão).

· CONCEITO
Instrumento mental que nos serve para pensar as diversas realidades, representando-as no nosso espírito.

· CONCRETO
Por oposição ao abstracto, designa a realidade dos seres ou objectos tal como se apresentam através da experiência; por oposição ao geral, refere-se às qualidades características dos seres individuais.

CONTRADIÇÃO
Princípio de não contradição: princípio pelo qual duas afirmações contraditórias não podem ser nem verdadeiras nem falsas ao mesmo tempo.

· CRENÇA
Distinguindo ideias [que são "as nossas construções intelectuais -- por exemplo, a função fanerogâmica de algumas plantas ou a teoria da relatividade"] de crenças ["essas certezas que damos por aceites até ao ponto de nem sequer pensar nelas"], Fernando Savater afirma que "Talvez a estranha tarefa da filosofia seja questionar de vez em quando as nossas crenças (daí o desconforto que frequentemente nos causam as perguntas filosóficas!) e procurar substituí-las por ideias sustentadas por argumentos"

DEDUÇÃO

Considera-se que um raciocínio é dedutivo quando, de uma ou mais premissas, se conclui uma proposição que é conclusão lógica da(s) premissa(s). A dedução é um raciocínio de tipo mediato, sendo o silogismo uma das suas formas clássicas. Veja-se o exemplo (de raciocínio dedutivo/silogismo):
a) Todos os mamíferos são animais;
b) Todos os gatos são mamíferos;
c) Todos os gatos são animais.
A proposição c) conclui-se logicamente das duas anteriores, em que estava implícita

DEFINIÇÃO
Definir um conceito é manifestar a sua compreensão. Deste modo, definir é delimitar (delimitar as fronteiras -- os limites! -- de um conceito relativamente a outros). Geralmente a definição faz-se pelo género próximo e pela diferença específica.

· DESTINO
Potência misteriosa e personificada que, no pensamento antigo (nomeadamente, na tragédia grega e no estoicismo) rege o devir universal, incluindo o curso da história humana, sem qualquer possibilidade de intervenção da vontade ou da previsão do homem.

Contrariamente ao determinismo, (que se aplica sobretudo aos acontecimentos naturais) o destino é uma lei cega, fixada de antemão, que o homem não conhece e à qual está sujeito e não consegue escapar (ver, como exemplo, Édipo, o herói da tragédia grega). Como tal, significa uma recusa da liberdade.

DIALÉTICA

Originalmente, o termo (que tem origem grega) significava discorrer com, isto é, trocar impressões, conversar, debater... dialogar. Evolui, entretanto, para um sentido mais preciso, designando "uma discussão de algum modo institucionalizada, organizando-se -- habitualmente em presença de um público que acompanha o debate -- como uma espécie de concurso entre dois interlocutores que defendem duas teses contraditórias. A dialéctica eleva-se, então, ao nível de uma arte, a arte de triunfar sobre o adversário, de refutar as suas afirmações ou de o convencer"

DÚVIDA

A "filosofia duvida de (isto é, desautoriza) os portadores do oráculo, os meros fabuladores, os visionários, os pregadores de e obediência, os que falam em nome do desconhecido e, do mesmo modo, os que não conhecem maior argumento do que a autoridade academicamente avalizada, os possuidores de habilidades instrumentais que aconselham a renúncia à teoria, os especialistas que desacreditam a generalidade supra-específica do saber (ou, pelo menos, da pergunta), os gestores de uma eficácia entendida como única verdade

EMPÍRICO
É empírico o que tem origem na experiência (por oposição ao conhecimento racional). O adjectivo aplica-se ainda para qualificar um conhecimento ou uma pessoa não sistemática, apoiada na experiência imediata. [Ver empirismo. Não se podem identificar os dois conceitos: pode admitir-se o carácter empírico de alguns dos nossos conhecimentos sem por isso defender a experiência como o único fundamento do conhecimento.]

EMPIRISMO
Corrente filosófica que considera a experiência sensível externa (as sensações) e interna (os nossos sentimentos tal como são vividos) como fonte única, directa ou indirecta, do conhecimento.

EPICURISMO
Doutrina filosófica criada por Epicuro que comporta uma moral baseada na sobriedade no prazer.

· EPISTEMOLOGIA
Estudo do conhecimento científico. A palavra designa pesquisas de natureza diversa, tentando, no entanto, todas responder à questão "O que é a ciência?", colocando particularmente a questão das relações entre a ciência e as formas não científicas do saber.

ESCOLÁSTICA
Filosofia e teologia ensinadas nas escolas eclesiásticas e nas universidades da Europa desde o século IX até ao século XVII.

ESPAÇO

Na perspectiva de uma filosofia da poesia (que se propõe "estudar os problemas propostos pela imaginação poética") e utilizando o método fenomenológico, Bachelard pretende, na obra A Poética do Espaço, examinar "as imagens do espaço feliz", visando "determinar o valor humano dos espaços de posse, dos espaços defendidos contra forças adversas, dos espaços amados". Trata-se de um espaço que, "percebido pela imaginação não pode ser o espaço indiferente entregue à mensuração e à reflexão do geómetra. É um espaço vivido.

EVOLUCIONISMO
Teoria biológica segundo a qual todas as espécies vivas derivam umas das outras por transformação natural.
Segundo Aristóteles as espécies têm uma forma fixa, imutáel. Esta ideia irá dominar até ao século XVIII, quando Lamarck, rompendo com uma visão finalista da natureza, afirma a ideia de uma evolução das espécies. A sua teoria é baseada num pressuposto igualmente contestável cientificamente: a da hereditariedade dos caracteres adquiridos.
Para explicar a evolução dos seres vivos, Darwin avança o princípio da "selecção natural"

EXTENSÃO
A extensão (ou denotação) de um conceito é o conjunto de seres ou objectos que o conceito abrange e aos quais se aplica. Por ex., a extensão do conceito de ser humano: o conjunto dos indivíduos de que se pode dizer que são homens.

·
Ter fé significa:
1. aderir a... (o crente que tem fé adere à ideia de que Deus existe, ainda que não possa demonstrar a sua existência);
2. ter confiança em... (neste sentido, é o contrário de desconfiar).

FENÓMENO
O termo fenómeno foi criado a partir do grego phainestai, que significa aparecer. Assim, é fenómeno tudo aquilo (material ou ideal) de que podemos ter consciência, de qualquer modo que seja

  • FENOMENOLOGIA DO CONHECIMENTO

Uma fenomenologia do conhecimento distingue-se de uma teoria do conhecimento pelo facto de a primeira ser uma pura descrição e a segunda, uma interpretação e explicação. "A teoria do conhecimento é, como o seu nome indica, uma teoria, isto é, uma explicação ou interpretação filosófica do conhecimento humano. Mas, antes de filosofar sobre um objecto, é necessário examinar escrupulosamente esse objecto. Uma exacta observação e descrição do objecto devem preceder qualquer explicação e interpretação. É necessário, pois, no nosso caso, observar com rigor e descrever com exactidão aquilo a que chamamos conhecimento, esse peculiar fenómeno da consciência. Fazemo-lo, procurando apreender os traços gerais essenciais deste fenómeno, por meio da auto-reflexão sobre aquilo que vivemos quando falamos do conhecimento. Este método chama-se fenomenológico e é distinto do psicológico. Enquanto que este último investiga os processos psíquicos concretos no seu curso regular e a sua conexão com outros processos, o primeiro aspira a apreender a essência geral no fenómeno concreto. No nosso caso não descreverá um processo de conhecimento determinado, não tratará de estabelecer o que é próprio de um conhecimento determinado, mas sim o que é essencial a todo o conhecimento, em que consiste a sua estrutura geral"

HEDONISMO :Doutrina que faz do prazer o bem supremo do homem.
HERMENÊUTICA
Ciência/reflexão sobre o sentido; arte de interpretar: as ciências hermenêuticas, além de estabelecerem os factos, visam também interpretar o sentido das intenções ou das acções. Segundo Ricoeur, todas as filosofias têm as suas intenções primeiras: compete à hermenêutica compreendê-las sob este ponto de vista.

HIEROFANIA
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como qualquer coisa de absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o acto da manifestação do sagrado propusemos o termo hierofania.

· HIPÓTESE

Hipótese pode designar
1) o que se afirma no início de um discurso, a fim de o construir;
2) uma suposição verosímil, que requer verificação;
3) um instrumento teórico de descoberta/pesquisa. O método científico deduz hipóteses de um certo número de resultados, confirma estas hipóteses por um protocolo lógico-experimental, antes de formular novas hipóteses.

· HONRA
"A dignidade, quando ela passa pelo olhar dos outros. Ou o amor-próprio, quando este se toma a sério. Pode levar ao heroísmo tanto quanto à guerra ou ao assassinato (os "crimes de honra"). No fundo, trata-se de um sentimento equívoco, que à partida não é possível admirar ou desprezar. É uma paixão nobre; mas é apenas uma paixão, não uma virtude. Que socialmente não possamos prescindir dela, estou de acordo. Mais uma razão para, individualmente, desconfiar dela. 'A honra nacional, dizia Alain, é como um fuzil carregado." E que dizer da honra daqueles adolescentes que se matam uns aos outros.

IDEIA

Aquilo através do qual o pensamento se relaciona com o real.
A natureza e a origem das ideias são questões que suscitam debates a que nenhum filósofo se pode esquivar.

INCONSCIENTE

Segundo a psicanálise, a nossa vida psíquica não se reduz à consciência que dela temos. A hipótese do inconsciente (realidade psíquica formada pelo conjunto dos desejos recalcados, inacessíveis à consciência) é justificada a partir dos sonhos, dos lapsos e dos actos falhados, dos sintomas mórbidos no doente.

INDUÇÃO

Raciocínio que consiste em tirar conclusões gerais a partir de casos particulares considerados como portadores de relações gerais. O problema do raciocínio indutivo está no facto de que, contrariamente à dedução, a verdade das premissas não garante a verdade da conclusão.

INFERÊNCIA
Operação pela qual se afirma a verdade ou a falsidade de uma proposição em virtude da sua ligação com outras proposições já tidas como verdadeiras ou falsas. Distinguem-se as inferências imediatas (quando uma proposição se conclui de outra, sem necessidade de uma terceira. Ex.: Alguns europeus são negros; logo, alguns negros são europeus) das mediatas (quando uma proposição se conclui de outra por meio de outra ou outras proposições -- o silogismo é um exemplo de inferência mediata).

· INTELIGÊNCIA

||| Comentando o período sensório-motor da evolução intelectual -- e a afirmação de que há uma inteligência antes da linguagem, mas não há raciocínio antes da linguagem -- Piaget (Seis Estudos de Psicologia) distingue "relativamente a este caso, a inteligência do raciocínio. A inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, é a coordenação dos meios para atingir um determinado fim que não é acessível de um modo imediato; ao passo que o raciocínio é a inteligência interiorizada, não se apoiando já na acção directa, mas num simbolismo, na evolução simbólica, por meio da linguagem, das imagens mentais, etc., que permitem representar o que a intreligência sensório-motora, pelo contrário, vai apreender directamente".
||| Inteligência é distinta de razão.

· INTUIÇÃO
Modalidade do conhecimento que põe, sem mediação, o espírito em presença do seu objecto.